Como sempre o jornal O Estado de Sào Paulo que, ao longo de sua história, defendeu e defende os interesses das classes abastadas do Brasil e do exterior, sejam elas financeira, agrária ou industrial, mais uma vez, faz-se defensor delas contra os interesses da Naçào brasileira. Desta vez, porém, exagerou. Mas isto é comum para este órgào de imprensa quando os interesses das classes ricas estào ameaçados.
No editorial de 21 de novembro, "Mutirào pelo Retrocesso", o Jornal volta a reafirmar suas teses ultra-conservadoras, fazendo passar os interesses das elites como se fossem os interesses do Brasil. Controlando o poder econômico e a grande mídia, estas elites exercem o mando sempre de costas para o povo brasileiro, espelhando-se nas metrópoles da Europa ou dos Estados Unidos. O linguajar do jornal revela uma atitude de intolerância e autoritarismo. Nào tolera dissenções, nem opiniões contrárias à s suas, agredindo com qualificativos depreciadores, em estilo tendencioso e nào profissional.
O jornal afirma que a igreja perde seu tempo em reuniões como a Semana Social e é por isso que ela vai perdendo fiéis. Será que lutar pela justa partilha da renda, da riqueza, da terra, lutar por políticas públicas que garantam os direitos sociais e lutar contra a manipulaçào dos grandes meios de comunicaçào social é perder tempo? Por que o Estadào nào questiona certas igrejas que nào relacionam a fé com a realidade, que nào fazem a ligaçào entre a fé e a política, e que evitam debater os problemas nacionais?
Ao se referir à 4a Semana Social Brasileira da CNBB – Mutirào por um Novo Brasil – onde sào discutidos temas como o Papel do Estado, a Soberania, Participaçào Popular, e a necessidade de um projeto democrático de Naçào e de desenvolvimento, o jornal diz que seria melhor que o slogan fosse "Mutirào por um Brasil Velho" ou "Mutirào pelo Retrocesso". O Estadào continua a desfilar sua indignaçào ao se referir à luta que as pastorais e movimentos sociais farào no próximo ano, questionando por meio do plebiscito popular o Leilào que em 1997 desnacionalizou a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).
Por que o Estadào se revela defensor tào ardoroso da injusta, imoral e inescrupulosa privatizaçào da CVRD? A quais interesses estaria ele servindo? Aos do povo brasileiro ou aos das classes privilegiadas? Nào sabe por acaso o jornal que a avaliaçào da mesma foi feita por um dos seus compradores (a financeira Merryl Lynch), e que o preço pelo qual foi vendida foi de apenas 3,338 bilhões de reais, quando seu valor de mercado era superior a 40 bilhões? Ignorava que 10 anos antes do leilào só a província mineral de Carajás havia sido estimada em US$ 80 bilhões?
Que a sua composiçào acionária passou, do momento do leilào até dezembro de 2005, de 51% para apenas 5,7% com o governo federal e de apenas 11% para 41% com acionistas estrangeiros? Nào sabe que depois de privatizada a empresa teve lucro de mais de 10 bilhões num ano? O jornal diz que as privatizações devem ser feitas, pois garantem recursos para o governo poder investir em saúde, educaçào, moradia, etc. Por acaso o dinheiro da privatizaçào da Vale serviu para esses fins? Ou os lucros da Vale privatizada têm sido aplicados em investimentos sociais? Ou para reduzir a dívida pública como prometera o entào Presidente Cardoso? Ou irào apenas para os bolsos dos seus acionistas como é o Bradesco?
O Estadão se presta a divulgar o mito de que a dívida externa não é mais problema. Ele finge ignorar que a dívida pública externa continua pesando sobre o Orçamento público e retirando do Brasil mais de US$ 30 bilhões por ano, entre juros e amortizações; que os pagamentos antecipados da dívida externa ao FMI e ao Clube de Paris não reduziram a dívida, pois consistiram na troca de dívida velha por nova, mais cara, e também na troca de dívida externa por dívida interna, também mais cara. O jornal critica a CNBB por questionar o corte indiscriminado de gastos federais, sem mencionar que o Seminário de Encerramento da 4a. Semana Social questionou justamente a prioridade para as dívidas públicas financeiras em prejuízo dos gastos sociais e dos investimentos públicos em infraestrutura e no crescimento da economia interna e do emprego. O Ministro Luiz Dulci, que debateu com os participantes do Seminário no sábado, 18.11.06, ouviu do plenário a questão relativa ao projeto de Lei Orçamentária para 2007, enviado pelo Governo Lula ao Congresso Nacional, que prevê gastos de R$ 229 bilhões com as dívidas externa e interna, o que representa 26 vezes o que será destinado ao Bolsa Família, 57 vezes os gastos previstos para a Reforma Agrária, cinco vezes o orçamento proposto para a Saúde, 11 vezes o destinado à Educação, sendo que os gastos sociais ainda estão sujeitos a contingenciamentos para se produzir o superávit primário. A demanda de auditoria das contas públicas relativas ao endividamento, que é justa para toda empresa, por que não seria justa para o Governo Federal, instituição que tem como missão primordial o serviço à Sociedade? Ainda mais quando é exigência constitucional (Art. 26 das Disposições Transitórias) e nunca foi cumprida!
Mas há um motivo maior que faz o jornal reagir desta forma e desqualificar as entidades que sempre se bateram pela ética e pela defesa do povo brasileiro.
O Estado de São Paulo sabe que o conjunto de pastorais e movimentos sociais articulados em torno da 4aSSB e da Assembléia Popular tem uma força muito grande: mais de 150 mil ativistas tornaram os Plebiscitos da Dívida e da Alca uma realidade em todo o território nacional. O jornal sabe do amor ao povo e da capacidade mobilizadora destes militantes. Sabe que do ponto de vista ético e moral temos razão.
O mais importante, porém, é que o Estadão, bem como as elites que ele representa e defende, têm medo porque há uma decisão do Tribunal Regional Federal de Brasília que reconheceu a nulidade da avaliação do valor da venda da Vale do ponto de vista jurídico, o que possibilita a anulação do leilão. Temos respaldo legal, a lei está conosco na defesa do Brasil!
Só isto pode explicar a virulência com a qual o Estadão se insurge contra a 4aSSB da CNBB. Se alguém é pelo retrocesso, é o próprio Estadão.
Tanto o jornal como as elites que se expressam por ele podem ter certeza de que o ano de 2007 será de muitas lutas. O Plebiscito Popular sobre a Vale será o cavalo de batalha da sociedade civil organizada. Ele toca diversos aspectos relacionados com a boa governança do Brasil: a soberania do país sobre seus bens naturais, as finanças públicas, o setor mineral, estratégico para o desenvolvimento endógeno, soberano e solidário do Brasil, as dívidas, o papel do BNDES, a ética, a responsabilidade fiscal e moral do governo FHC, o meio ambiente. Com certeza o tema "cola" e é atualíssimo, como ficou demonstrado nas eleições de outubro, quando a correção e a ética das privatizações esquentou os debates.
Ao Estadão fica a pergunta: o Brasil de profundas e históricas desigualdades, com metade da população vivendo na pobreza ou na indigência, um país que permite que madeireiras e agronegócio tenham queimado nos últimos 20 anos uma parte da Floresta Amazônica que corresponde aos territórios da Itália e da Bélgica somados, é esta a modernidade? A CNBB está sintonizada com os anseios e aspirações populares de justiça, igualdade e fraternidade. O jornal defende as velhas injustiças. Os temas de ação da 4a. Semana Social Brasileira e da Assembléia Popular, ao contrário, apontam para um futuro mais humano, solidário e sustentável.
[1] Luiz Bassegio é Secretário Executivo do Grito dos Excluídos Continental e do Serviço Pastoral dos Migrantes da CNBB e membro da Coordenação da Assembléia Popular.
[2] Marcos Arruda é economista e educador do PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Rio de Janeiro) e sócio do Instituto Transnacional (Amsterdam). Assessorou o Seminário de Encerramento da 4a. Semana Social Brasileira, Brasília, 17-19.11.06.
Datos para citar este artículo:
Marcos Arruda. (2006). Por que o Jornal Estado de São Paulo reage de forma tão virulenta contra a 4a Semana Social Brasileira da CNBB?. Revista Vinculando. https://vinculando.org/brasil/estadao.html
Marcos Arruda dice
Amigxs,
Abajo, noticias de actividades recientes del PACS en el contexto del movimiento de Asamblea Popular y de la Red Jubileu Brasil.
Estuvimos en la Plenaria Nacional de la Asamblea Popular, con 90 participantes de todo el país, para planificar la campaña nacional del plebiscito sobre la Cia. Vale do Rio Doce (CVRD), que es un mega conglomerado de mineración y metalurgía, controlador de la mayor parte de los depósitos minerales de Brasil! Este grupo fué privatizado por F.H.Cardoso, en 1997, de forma espuria y fraudulenta. Nuestro objetivo es re-estatizar la CVRD.
Igual estuvimos en la reunión de la coordinación colegiada de la campaña Auditoría Ciudadana. Estamos preparando el lanzamiento del Frente Parlamentar por la Auditoría de la Deuda Pública, produciendo materiales didácticos para la educación de los movimientos populares de Brasil, y participando de las actividades de apoyo a los procesos de Ecuador y Venezuela, cuyos presidentes declararon su determinación de hacer la auditoría de la deuda pública.
Recién llego de Belém do Pará, donde estuve participando de la Plenaria estadual de la Asamblea Popular de Pará. Es el estado más afectado por las actividades de la CVRD. Tuvimos 400 participantes de todo el estado, muchas mujeres y muchos jóvenes. Les enviaré la Declaración Final, que muestra su determinación de participar activamente de la campaña del Plebiscito, que será el tercero realizado por los movimientos sociales de Brasil, y se hará en septiembre próximo.
Tomar el tema de la reestatización de la CVRD implica discutir temas relacionados con sus operaciones, que son esencialmente tres: (1) la soberanía de Brasil sobre sus recursos naturales; (2) las privatizaciones que debilitan al Estado brasileño y vuelven inviable un proyecto propio de desarollo económico, social y humano sustentable de Brasil; (3) la deuda pública y las deudas histórica, social y ecológica que tiene la CVRD, las élites locales y los acreedores de la deuda financiera para con el pueblo de Brasil.
Abrazos,
Marcos Arruda – PACS